“ – Quando eu resolvi me casar eu sabia que o banheiro seria invadido por calcinhas molhadas que não encontraram melhor lugar para serem penduradas e secar em paz. Eu sabia que nunca mais meus papéis poderiam ficar espalhados sobre a mesa ou sobre a cama sem serem juntados aleatoriamente, com a desculpa esfarrapada de organizá-los, por um ser divino e peitudo que enquanto isso me xingaria de bagunceiro idiota. Sabia do risco das greves de sexo. Sabia disso, daquilo, e sei-lá-mais-do-quê. De tudo que eu precisava saber, só uma coisa eu não sabia: eu não sabia que ela ocuparia todo o guarda-roupas. Assim que casamos eu comprei um guarda-roupas imenso, que quase nem coube no quarto de 4m por 5m. um custo pra montar aquela porra: coisa de um dia de trabalho para dois caras. Era uma coisa linda: doze portas mais oito gavetas. Duas portas espelhadas bem no meio: eu acordava sempre de bom humor, porque já acordava me amando no espelho! Na divisão eu fiquei com duas portas e quatro gavetas! Um absurdo da porra! Mas engoli. Passando-se alguns meses, ela juntou minha roupa em duas gavetas. Pasmem: duas gavetas!!! Um cúmulo!!! Mas eu engoli de novo. Agora ela ocupou metade das minhas duas portas com roupas dela, dizendo: “Ah... amor, tô sem espaço nenhum! Aí, separei umas roupas que eu quase nem uso pra colocar aqui, ta? Já que você tem pouca coisa mesmo, né?” Por isso é que deu merda! Por isso é que eu quero o meu divórcio, doutor. Ah... e outra coisa, o senhor lembre-se bem disto: na divisão dos móveis eu quero o guarda-roupas. Nem que eu gaste uma semana desmontando e montando aquela porra. Por uma questão de honra: eu quero aquele guarda-roupas!!! Ela que enfie as roupas dela no ... ”
Rio, 11/Out./2007.