Falta o revólver,
falta a bala
e eu não consigo escolher
o lugar do tiro.
Por isso não me mato.
Se eu atirasse no peito
escorreria todo o amor
que acumulei por você,
e sem ele minha vida inteira
e até minha morte
teria sido em vão.
Se eu atirasse na cabeça
escorreriam as idéias
sobre o que acho estar mais perto
do que chamo de felicidade.
E embora todas as ideologias juntas
não valam um suicídio,
nem um homicídio,
nem um genocídio;
sem o que a gente acredita
é como se a gente nunca tivesse
existido no mapa.
E se eu atirasse no pé
mancharia o caminho
que dolorosamente percorri
na tentativa de deixar
uma trilha melhor para você,
para que fosse mais fácil
quando você tivesse que passar
pelos lugares onde já passei.
Eu poderia também
cortar os pulsos,
mas o Renato já tentou isso
e deu tudo errado.
Nem me enforcar eu posso,
nem pular de um prédio,
porque morro de medo de altura.
Já que não sei nada de nadar
eu poderia me afogar,
mas e se não achassem o meu corpo?
Aí não leriam a minha carta!
E suicídio não vale a pena
sem a devida carta suicida.
Venho tentando com veneno.
Todo dia me enveneno,
enquanto vejo tv,
enquanto leio jornal,
durante as aulas da faculdade,
e até no meio das missas
e nas reuniões do partido.
Mas isso não está funcionando:
o veneno é forte;
mas a vontade que meu corpo tem
de continuar vivo para tocar o seu,
é muito mais forte do que todos os venenos.
Já pulei na frente
de tantos caminhões,
de tantos trens
e de tantos aviões:
o freio de uns era bom,
o volante de outros era melhor,
e os poucos que se chocaram comigo
saíram pior do que eu.
É por isso que não me mato!!!
Mas o principal motivo
para eu não me matar
é que eu só faço aquilo
que eu mesmo inventei:
Não consigo não ser original!!!
Paracambi, 17 de Fevereiro de 2008.
Um comentário:
Olá, Leomir!!! Tudo o que você escreve é excelente, o seu dom de lidar com as palavas, com cada letra é admirável! Espero que você continue postando sempre os seus escritos e nos alegrando com os mesmos :)
"O homem é um ser que se criou a si próprio ao criar uma linguagem. Pela palavra, o homem é uma metáfora de si próprio" (Octavio Paz)
A linguagem nos possibilita a liberdade, pois é exatamente como diz Elisa Lucinda: "...Porque quando tudo parece me faltar, a Liberdade me dá colo"
Parabéns!
Besos
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