Eu devia estar comemorando porque consigo viver do jeito que quero: sozinho.
No entanto, há um peso qualquer insuportável sobre meus olhos que obriga-os a gotejar.
Anteontem teve enchente na minha terra. E eu estou aqui preocupado por causa de alguns mililitros que escorrem pelo rosto.
É a maldita pergunta que incomoda: Por que saem eles por sua causa?
Mas tenha certeza que não mais sairão!
Beijos e até mais.
Autorias e Desencontros
Cortei o cabelo para ver se conseguia cortar outras coisas que estão me enrolando...
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Suicídios - parte 3
Nunca teve arma em casa. Nem seus pais tiveram qualquer arma em casa. Alguns amigos seus tinham. Se pedisse a qualquer um deles teria que dar explicações, e como explicar para outrem o que nem mesmo sabia explicar para si. Era preciso arranjar uma arma. Mas onde? A idéia ficou na cabeça. O problema era arranjar a arma. E assim passou-se dezesseis dias. Foi no Domingo assistindo a TV que descobriu onde poderia comprar a sua tão sonhada arma, que até já havia decidido qual: seria uma 44.
(Preciso continuar escrevendo este texto!)
(Preciso continuar escrevendo este texto!)
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Suicídios - parte II
Queria a Suíte Presidencial. Foi preciso reserva. Teve que adiar seu plano, mas isso não fez com que o reformulasse. Muito menos que desistisse do seu determinado objetivo. A vaga mais próxima seria em oitenta e dois dias, maldita cidade turística, maldito verão repleto de praias, corpos lindos e caipirinhas. Era só isso que faltava, apenas a Suíte Presidencial. Para tê-la se preparou tanto... Viajou até a cidade das maravilhas e entrou na Suíte Presidencial que reservara. Depois da sua morte o Hotel fez de tudo pra descobrir quem era. Investigou os documentos: todos eram falsos. Investigaram na cidade de origem do vôo: ninguém conhecia por lá. Não que o Hotel, tão famoso, tão luxuoso, tão cinco estrelas, se importasse com um corpo que congelado não fedia no necrotério. O Hotel queria apenas a fortuna que custava a diária, mas com tantas investigações acabou gastando mais do que teria se ressuscitasse e pagasse a dívida. Nada achou enfim. No dia em que executou seu plano foi um júbilo maravilhoso: o Hotel era tudo que sonhara e muitos mais, muitos mais ainda. Ah... e a banheira? Esplêndida! Imensa! Linda! O último paraíso que teria em vida. Tudo foi conforme o planejado: hospedou-se, suicidou-se, não pagou a conta e, o melhor de tudo, nenhum amigo, nenhum parente e nenhum amor saberia da sua morte, creriam antes em desaparecimento, ainda que a dúvida ficasse. Entrou na banheira bem devagar. Seu corpo nu sentiu o calor do água como afagos simultâneos em todos os póros. Deitou. Relaxou. Tomou o comprimido. Pegou a navalha. Cortou o pulso direito. Cortou o pulso esquerdo. Fechou os olhos para sentir mais intensamente a delícia que era estar naquela água naquela banheira tão perfeita. Sentiu que adormeceria. Abriu os olhos. A última coisa que viu foi o vermelho se confundindo com a espuma na água repleta de sais.
Suicídios - parte I
Quanto tempo durou a queda? Tempo suficiente para que passasse por seus olhos sua vida inteira? Mas a pergunta era: Por quê? Todos queriam saber porque ele fez aquilo. Planejou tudo. Cada milímetro do caminho. Passou tantos meses juntando o dinheiro até comprar o túmulo. Mais outros para comprar o caixão. Como suportou durante quatrocentos e cinquenta e sete dias continuar com a idéia fixa de acabar com a merda que considerava ser a sua vida? Sei lá... Era preciso um último capricho: Ter um terno! Como não? O pai foi enterrado num lindo terno. O avô foi enterrado num lindo terno. Mas às vezes achava que foi o terno que enterrou a todos. Pela primeira e última vez na vida subiu os andares da faculdade, ao invés de esperar o tão sonhado elevador. O que pensou enquanto os passos iam surgindo? Vá saber... Chegou no décimo primeiro andar, o antro do seu curso, onde graduou-se pra felicidade da família. Por que pular logo dali? Ainda mais numa cidade repleta de pontes e de muros. Respirou fundo... Seria medo o que sentia? Ele não me contou! Tinha conta em três bancos, tratou de pagar o que devia e fechar as suas contas. Deixou pra filha uma poupança pequena e nenhuma casa própria, certamente pode-se dizer que foi um fracasso. Nenhuma carta! Nenhum email! Nada que protestasse!!! Contratou um grupo para tocar pela manhã na praça em frente, que acabou não tocando porque ninguém entendia como pensara naquilo. Pulou! E já com o terno. Pulou e logo caiu. Caiu e logo morreu. Ou será que havia morrido antes? Entre o salto e a queda não teve tempo nem sequer de ver sua vida correndo pelos seus olhos: ela já tinha saído muito antes.
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