Autorias e Desencontros

Cortei o cabelo para ver se conseguia cortar outras coisas que estão me enrolando...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Suicídios - parte II

Queria a Suíte Presidencial. Foi preciso reserva. Teve que adiar seu plano, mas isso não fez com que o reformulasse. Muito menos que desistisse do seu determinado objetivo. A vaga mais próxima seria em oitenta e dois dias, maldita cidade turística, maldito verão repleto de praias, corpos lindos e caipirinhas. Era só isso que faltava, apenas a Suíte Presidencial. Para tê-la se preparou tanto... Viajou até a cidade das maravilhas e entrou na Suíte Presidencial que reservara. Depois da sua morte o Hotel fez de tudo pra descobrir quem era. Investigou os documentos: todos eram falsos. Investigaram na cidade de origem do vôo: ninguém conhecia por lá. Não que o Hotel, tão famoso, tão luxuoso, tão cinco estrelas, se importasse com um corpo que congelado não fedia no necrotério. O Hotel queria apenas a fortuna que custava a diária, mas com tantas investigações acabou gastando mais do que teria se ressuscitasse e pagasse a dívida. Nada achou enfim. No dia em que executou seu plano foi um júbilo maravilhoso: o Hotel era tudo que sonhara e muitos mais, muitos mais ainda. Ah... e a banheira? Esplêndida! Imensa! Linda! O último paraíso que teria em vida. Tudo foi conforme o planejado: hospedou-se, suicidou-se, não pagou a conta e, o melhor de tudo, nenhum amigo, nenhum parente e nenhum amor saberia da sua morte, creriam antes em desaparecimento, ainda que a dúvida ficasse. Entrou na banheira bem devagar. Seu corpo nu sentiu o calor do água como afagos simultâneos em todos os póros. Deitou. Relaxou. Tomou o comprimido. Pegou a navalha. Cortou o pulso direito. Cortou o pulso esquerdo. Fechou os olhos para sentir mais intensamente a delícia que era estar naquela água naquela banheira tão perfeita. Sentiu que adormeceria. Abriu os olhos. A última coisa que viu foi o vermelho se confundindo com a espuma na água repleta de sais.

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