Esperava ter lá algum afago que me libertasse, ainda que momentaneamente, do peso profundo que a solidão põe sobre meus cachos. Mas lá também todos foram para a festa e eu fiquei em casa. Não. Alguém estava na sala. Mas quem ficou está dormindo, e eu já estou cansado de ficar gritando na tentativa de que alguns acordem. Devia eu dormir também? Confesso que fraquejei e quis entregar-me ao sono, mas até no cobertor havia frio. Foi quando o Rilke apareceu e me disse que era preciso "solidão, uma grande solidão" e argumentou sobre as possibilidades. Ah... que bom foi vê-lo. Depois dele veio a sua mensagem com um barulho no celular que me assustou e com um texto que quase me alegrou. A caneta chegou na minha mão e puxou meu braço para o papel. Já tinha ensaiado na cabeça alguns versos, mas foram outros que a tinta escreveu. Elaborei um pouco da dor nos sons do poema. Para completar teve o reencontro com os espelhos enormes do meu quarto, melhor coisa que há aqui. Foi notando as pequenas resistências que meus lábios faziam contra a tristeza, ao se lançarem à procura de qualquer sorriso por cada mínimo motivo, que eu reaprendi a gargalhar. E há agora a lembrança do seu rosto sem que eu tenha que fechar os olhos. Por isso lhe escrevo: é preciso me livrar da alucinação que é contemplar seu corpo sem que ele esteja aqui. Trago também ainda uma gota de esperança de que lhe esqueça antes do final do ano. Pretendo enterrar meu afeto por você ao estourar dos fogos do reveillon. Agora estou tão bem que já consigo ouvir música, tão bem que até dancei sozinho na frente dos espelhos.
Paracambi, último sábado do mês passado.
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