Autorias e Desencontros

Cortei o cabelo para ver se conseguia cortar outras coisas que estão me enrolando...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

FACE: QUERO UMA PAIXÃO POR QUALQUER PESSOA

A solidão que eu desejei
chegou amarga
entre a língua e a garganta,
avermelhando os meus olhos
na precedência do caminho do rio
entre a minha barba
(que estava como sempre por fazer).
Você não está aqui
e eu não vou te ver
por quase um mês,
mas o que eu temo
é nunca mais conseguir te fantasiar
como agora quando olho pra você.
Pode ser que pra ninguém seja assim,
mas a minha necessidade é só pelo desejo:
preciso mais sonhar em te ter
do que pôr seu corpo nos meus braços.
O estranho é que me pergunto
se, às vezes, de repente, por acaso,
você se lembra do meu rosto.
Queria enfiar alguma dúvida
entre as suas sobrancelhas,
obrigar aos seus lábios à procura
de palavras que nem existem,
forçar seu nariz tão empinado
a respirar mais fundo o meu nome.
Mas não quero mais:
Decidi beijar a solidão!

Paracambi, último sábado do mês passado

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

PARA QUE EU Ñ PENSE EM VC NO NATAL!!!

Esperava ter lá algum afago que me libertasse, ainda que momentaneamente, do peso profundo que a solidão põe sobre meus cachos. Mas lá também todos foram para a festa e eu fiquei em casa. Não. Alguém estava na sala. Mas quem ficou está dormindo, e eu já estou cansado de ficar gritando na tentativa de que alguns acordem. Devia eu dormir também? Confesso que fraquejei e quis entregar-me ao sono, mas até no cobertor havia frio. Foi quando o Rilke apareceu e me disse que era preciso "solidão, uma grande solidão" e argumentou sobre as possibilidades. Ah... que bom foi vê-lo. Depois dele veio a sua mensagem com um barulho no celular que me assustou e com um texto que quase me alegrou. A caneta chegou na minha mão e puxou meu braço para o papel. Já tinha ensaiado na cabeça alguns versos, mas foram outros que a tinta escreveu. Elaborei um pouco da dor nos sons do poema. Para completar teve o reencontro com os espelhos enormes do meu quarto, melhor coisa que há aqui. Foi notando as pequenas resistências que meus lábios faziam contra a tristeza, ao se lançarem à procura de qualquer sorriso por cada mínimo motivo, que eu reaprendi a gargalhar. E há agora a lembrança do seu rosto sem que eu tenha que fechar os olhos. Por isso lhe escrevo: é preciso me livrar da alucinação que é contemplar seu corpo sem que ele esteja aqui. Trago também ainda uma gota de esperança de que lhe esqueça antes do final do ano. Pretendo enterrar meu afeto por você ao estourar dos fogos do reveillon. Agora estou tão bem que já consigo ouvir música, tão bem que até dancei sozinho na frente dos espelhos.

Paracambi, último sábado do mês passado.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O que você fez ao não ir

Eu devia estar comemorando porque consigo viver do jeito que quero: sozinho.
No entanto, há um peso qualquer insuportável sobre meus olhos que obriga-os a gotejar.
Anteontem teve enchente na minha terra. E eu estou aqui preocupado por causa de alguns mililitros que escorrem pelo rosto.
É a maldita pergunta que incomoda: Por que saem eles por sua causa?
Mas tenha certeza que não mais sairão!
Beijos e até mais.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Suicídios - parte 3

Nunca teve arma em casa. Nem seus pais tiveram qualquer arma em casa. Alguns amigos seus tinham. Se pedisse a qualquer um deles teria que dar explicações, e como explicar para outrem o que nem mesmo sabia explicar para si. Era preciso arranjar uma arma. Mas onde? A idéia ficou na cabeça. O problema era arranjar a arma. E assim passou-se dezesseis dias. Foi no Domingo assistindo a TV que descobriu onde poderia comprar a sua tão sonhada arma, que até já havia decidido qual: seria uma 44.

(Preciso continuar escrevendo este texto!)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Suicídios - parte II

Queria a Suíte Presidencial. Foi preciso reserva. Teve que adiar seu plano, mas isso não fez com que o reformulasse. Muito menos que desistisse do seu determinado objetivo. A vaga mais próxima seria em oitenta e dois dias, maldita cidade turística, maldito verão repleto de praias, corpos lindos e caipirinhas. Era só isso que faltava, apenas a Suíte Presidencial. Para tê-la se preparou tanto... Viajou até a cidade das maravilhas e entrou na Suíte Presidencial que reservara. Depois da sua morte o Hotel fez de tudo pra descobrir quem era. Investigou os documentos: todos eram falsos. Investigaram na cidade de origem do vôo: ninguém conhecia por lá. Não que o Hotel, tão famoso, tão luxuoso, tão cinco estrelas, se importasse com um corpo que congelado não fedia no necrotério. O Hotel queria apenas a fortuna que custava a diária, mas com tantas investigações acabou gastando mais do que teria se ressuscitasse e pagasse a dívida. Nada achou enfim. No dia em que executou seu plano foi um júbilo maravilhoso: o Hotel era tudo que sonhara e muitos mais, muitos mais ainda. Ah... e a banheira? Esplêndida! Imensa! Linda! O último paraíso que teria em vida. Tudo foi conforme o planejado: hospedou-se, suicidou-se, não pagou a conta e, o melhor de tudo, nenhum amigo, nenhum parente e nenhum amor saberia da sua morte, creriam antes em desaparecimento, ainda que a dúvida ficasse. Entrou na banheira bem devagar. Seu corpo nu sentiu o calor do água como afagos simultâneos em todos os póros. Deitou. Relaxou. Tomou o comprimido. Pegou a navalha. Cortou o pulso direito. Cortou o pulso esquerdo. Fechou os olhos para sentir mais intensamente a delícia que era estar naquela água naquela banheira tão perfeita. Sentiu que adormeceria. Abriu os olhos. A última coisa que viu foi o vermelho se confundindo com a espuma na água repleta de sais.

Suicídios - parte I

Quanto tempo durou a queda? Tempo suficiente para que passasse por seus olhos sua vida inteira? Mas a pergunta era: Por quê? Todos queriam saber porque ele fez aquilo. Planejou tudo. Cada milímetro do caminho. Passou tantos meses juntando o dinheiro até comprar o túmulo. Mais outros para comprar o caixão. Como suportou durante quatrocentos e cinquenta e sete dias continuar com a idéia fixa de acabar com a merda que considerava ser a sua vida? Sei lá... Era preciso um último capricho: Ter um terno! Como não? O pai foi enterrado num lindo terno. O avô foi enterrado num lindo terno. Mas às vezes achava que foi o terno que enterrou a todos. Pela primeira e última vez na vida subiu os andares da faculdade, ao invés de esperar o tão sonhado elevador. O que pensou enquanto os passos iam surgindo? Vá saber... Chegou no décimo primeiro andar, o antro do seu curso, onde graduou-se pra felicidade da família. Por que pular logo dali? Ainda mais numa cidade repleta de pontes e de muros. Respirou fundo... Seria medo o que sentia? Ele não me contou! Tinha conta em três bancos, tratou de pagar o que devia e fechar as suas contas. Deixou pra filha uma poupança pequena e nenhuma casa própria, certamente pode-se dizer que foi um fracasso. Nenhuma carta! Nenhum email! Nada que protestasse!!! Contratou um grupo para tocar pela manhã na praça em frente, que acabou não tocando porque ninguém entendia como pensara naquilo. Pulou! E já com o terno. Pulou e logo caiu. Caiu e logo morreu. Ou será que havia morrido antes? Entre o salto e a queda não teve tempo nem sequer de ver sua vida correndo pelos seus olhos: ela já tinha saído muito antes.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

A loucura é o lugar do não-reconhecimento?

Aqui no Instituto de Psicologia tudo pode acontecer, todas as coisas são possíveis. Eu estava no banheiro amaradão mijando em um dos mictórios, feliz porque não tinha ninguém lá pra me dar aquela sensação do “Estão espionando o seu pau”, quando de repente entra uma garota. Ela branca ficou vermelha!!! E a urina me sumiu da bexiga. Pronto! Fez-se o primeiro constrangimento do dia. Depois disso eu tava novamente animado, devido a conversas empolgantes sobre militância, psicologia, cinema, literatura e Tim Maia. Lá estava eu matando aula quando uma menina da minha turma me avisa que era o dia do meu grupo apresentar trabalho, o que eu havia esquecido assim como todos os outros integrantes. Aí eu tive que implorar uma outra data para apresentar, já que ninguém do meu grupo estava presente. A professora até concordou, mas fez-se o segundo constrangimento do mesmo dia. Travei um imenso esforço intelectual na busca pelo esquecimento de tudo isso. Então, divaguei pensando no sorriso de Tereza. Ah... quê coisa deliciosa é vê-la alegre!!! Quase um mês fiquei sem falar com ela, tentando deixar de ser apaixonado por ela, e infelizmente ela nem percebeu que era por isso. Então, consegui vê-la de novo e todo encanto do mundo me abraçou. E assim sonhando me encaminhei para a próxima aula, que é a do cara que eu quero que seja meu orientador. Motivado pelo debate que tava rolando, resolvi falar. Aí, eu, acostumado a falar em público, que sempre falo na frente de qualquer um, eu gaguejei. E para completar meu terceiro constrangimento do dia: o professor pediu que eu repetisse porque me engasguei tanto que ele não entendeu nada do que eu disse. Olha, hoje, literalmente, não estou me reconhecendo, muito menos reconhecendo as outras coisas. Será que já enlouqueci.

Rio, 03/Junho/2008.

domingo, 1 de junho de 2008

O complô do Ar-Condicionado

Eu passei muito tempo tentando entender porque todo ar-condicionado do Instituto de Psicologia gela excessivamente independente de em qual temperatura você o programe. A primeira hipótese foi de que é um complô de uma maioria branca sobre a minoria negra, tão minoria que beira a inexistência aqui no instituto. Visto que os poucos negros demonstram sentir muito mais frio do que os muitos brancos. Mesmo sem ter descartado esta teoria, avancei para outra hipótese: é uma represália da burguesia contra a classe trabalhadora, já que é nítido que os pobres não estão adaptados ao uso constante do ar-condicionado. Mas agora estou convencido de que não é nada disso!!! A verdade é que o eterno defeito do ar-condicionado é uma ação erótica. Como eu não consegui perceber isso antes, issó é tão óbvio? O objetivo é manter os biquinhos dos peitinhos, peitões e peitos das alunas sempre ouriçados e quase furando as blusinhas. É um atentado terrorista erótico da minoria masculina do instituto sobre a maioria feminina. E uma afirmação da existência ainda de alguns homens heteros. Porém o tiro não apenas saiu pela culatra, mas pior do que isso: o feitiço se virou contra o feiticeiro! Não há mais como se concentrar nas aulas com tantos biquinhos espetando meus olhos, tantos biquinhos espetando minha imaginação! Ainda mais quando todos os pêlinhos do corpo de uma das donas de um par de biquinhos ouriçados também se arrepiam. Assim eu não me formo nunca!!!

Rio de Janeiro, 01 de Junho de 2008.

Pequeno Relatório de Produção

Meu conto tá saindo em doses homeopáticas. Como o veneno no almoço posto pela mulher para matar ao marido, que vai aos poucos invadindo o sangue. Como o sangue escorrendo nos pulsos do suicida, que vazando a alma esvai suas forças lentamente. E devagar como o meu primeiro beijo de língua, que se vai experimentando e descobrindo o que fazer, e aprendendo o que se gosta ou não gosta ou gosta mais disso do que daquilo, e percebendo que nada disso é constante nem imutável. E a cada linha ele avança. E a cada voz ele se aprofunda. Ainda que insista a impressão de nunca vou terminar de escrevê-lo. Enquanto tento continuar nisso estou cercado de mulheres nesse bar, e sinto cheiro de menstruação. Duas fumam, as outras não: ainda bem! Mas o melhor é que muitas delas são bonitas. E é isso que me deprime: tanta mulher gostosa no mundo e eu tenho apenas dois olhos para olhá-las. Ah... e tem a chuva também, a chuva de folhinhas dessa árvore que não sei o nome. São folhinhas tão pequenas... Mas deixem-me voltar ao conto!

Rio, 29/Maio/2008.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

As simetrias da mulher safada

Encantado e intrigado e empolgado com as recentes descobertas do Dr. Jones é que te escrevo. Ele andou medindo e comparando os cornos de diversas pessoas e concluiu, transformando tudo em números, tabelas e centímetros, que o formato da cara de um determinado fulaninho pode te dizer, amiga, se ele tá afim de uma trepadinha só naquela noite ou se ele quer casar na igreja com você de véu e grinalda e eu como madrinha, linda e loira te invejando, e se ele quer ter filhos, e até se o casamento vai durar. Na hora eu desconfiei, né? Qualquer semelhança com as pesquisas nazistas sobre as simetrias do corpo da superior raça ariana, é mera coincidência! Qualquer semelhança com aquelas pesquisas sobre o formato da cabeça dos criminosos e a possibilidade de se medir a cabeça dos suspeitos, é mera coincidência! Então, pensando em produzir algo muito mais útil para a convivência humana, me dediquei avidamente a pesquisar quais são as medidas no corpo de uma mulher que podem nos dizer se ela é frígida ou safada. Sei que muito já se diz no senso comum sobre isso, entretanto todas essas afirmações têm tratado de fatores subjetivos e imprecisos, como o jeito de andar, o jeito de falar, o jeito de se vestir, o jeito de olhar e o jeito de beber água. Subjetivos porque não há como descrever, por exemplo, o significado do olhar, sem cair no conceito escuso de intencionalidade. E impreciso porque outros aspectos podem influenciá-las, por exemplo, a moda em relação ao jeito de se vestir. Avançando no objetivo da pesquisa, convidei vinte mulheres que já passaram pela minha cama para contribuírem como voluntárias, cedendo seus corpos para que eu pudesse medi-las. Das quais catorze aceitaram de bom grado, quatro se recusaram e duas me meteram a mão na cara. Conforme a análise das medições é possível afirmar duas determinantes: o formato dos lábios e o formato do quadril. Não cabe aqui, nessa crônica sem fins lucrativos, nessa crônica sem fins científicos, divulgar os números exatos. É válido, no entanto, para bom proveito do leitor, aconselhar a observação dos lábios e da bunda. Lábios grossos combinados com bunda empinada resultam em mulher escancaradamente safada e escandalosa; o que é bom por um lado, elas gemem como ninguém, e ruim por outro, vivem armando barraco e fazendo escândalo. Lábios finos combinados com bunda médio, fuja: essa mulher é mais gelada do que o seu freezer. Lábios grossos e bunda média é o que há, isso é a combinação perfeita, pois resulta naquela mulher que parece recatada, mas que na cama se solta, se revela e te enlouquece. Esses foram os principais resultados obtidos. Porém, acredito que as pesquisas neste sentido avançarão cada vez mais, e tornarão possível num futuro próximo uma perfeita correlação causal entre o comportamento e a performance sexual feminina e as simetrias do seu corpo. Por hoje é isso. Bjs e té mais.
Paracambi, 03 de Maio de 2008.

domingo, 4 de maio de 2008

A Playboy da Ana Carolina

A mulher mais famosa no Brasil atualmente é a mãe da Isabela. Só se fala nisso. Você abre o jornal e lá está ela de calça jeans, óculos-escuros e a camiseta com a foto da Isabela. Longe de mim ironizar o sofrimento de qualquer pessoa, mas é que a Playboy sempre dá um jeito de despir e fotografar a mulher mais famosa da hora, então tem que ser a mãe da Isabela. Quem não tem vontade de pegar aquela carinha de menina triste e pôr no seu ombro pra poder chorar? Ou pôr em outras partes do corpo também, cada um com a sua tara, né? Ou então chamem a madrasta, afinal ela também se chama Ana Carolina. Coincidência, não? Uma é Jatobá e a outra é Oliveira. Aliás, não são ambos nomes de árvores? Só que a madrasta a gente teria que fotografar num ensaio sadomasô, coisa bem hardcore, assim, sabe? Fala, quem nunca teve vontade de dar uma coça nela enquanto metia-lhe a piroca rabo a dentro? Ou até matá-la de porrada e comê-la só depois disso, necrofilia a parte? E é melhor fotografar logo, agora que só se fala nisso, porque depois que as pessoas esquecerem o assunto não vai demorar pra pintar um diretor tarado e pervertido do cinema pornô propondo um roteiro com o pai, a mãe e a madrasta numa série de ménages extraordinários; aí meu bem é só decadência, né? Aliás, já reparou como que brota mulher do chão pra fazer tanta revista erótica, tanto filme de sacanagem, tanta putaria impressa, tanta putaria áudio-visual? Gente, mas é muita mulher! Onde arranjam tanta mulher assim com disposição pra ser fotografada e filmada peladinha, peladinha? Com disposição pra dar pra atores desconhecidos ou conhecidos, sei lá? Mas essa banalização do corpo feminino não é absurdo, isso é natural, né? É por isso que eu tô lançando a campanha: façamos a playboy da Ana Carolina!!! Não importa qual delas. Até se forem as duas juntas já serve também, é muita mulher pra apenas dois olhos, mas já serve também. Não que eu queira ridicularizar o sofrimento nem a comoção de ninguém! Só digo o que muita gente já pensa: tô de saco cheio de só ouvir falar da Isabela. Enquanto isso uma porrada de gente continua morrendo de dengue. Enquanto isso o Joel deixou o Flamengo! Enquanto isso meu pai ta desempregado!!! Mas e daí? Só acho que é preciso coerência: ou a gente se importa com toda e qualquer atrocidade humana ou ignora todas elas!!! Por que passar a Isabela atirada da janela e não passar o Tigela fuzilado na favela, se ambos só tinham seis anos? Tô propondo um abaixo-assinado e depois faremos uma passeata: Queremos Carolina! Queremos Carolina!

Paracambi, 21 de Abril de 2008.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Doença

Ando carente de açúcar,
mas isso dá cárie nos dentes.
Bocejo é tão contagiante,
mais que conjuntivite.
Aliás, já reparou quanta gente
já anda gripada?
É melhor pegar dengue
do que me apaixonar por você!!!
Mas o pior é que eu fiz
uma bateria de exames
e no raio x do meu peito
apareceu uma foto sua.
Fiz tratamento dentário
e escovo os dentes sempre
mais de três vezes ao dia;
as cáries foram embora,
mas continua o gosto do beijo
que eu ainda não te dei.
Eu sinto uma febre imensa,
e o termômetro nem se altera.
Fico vomitando poesias
e espirrando saudade.

Paracambi, 30 de Março de 2008.

segunda-feira, 24 de março de 2008

A Páscoa sem coelhos!

Os Peixes da Páscoa
Quê fascínio exerce
a Lua sobre nós,
que faz com que
uivemos para ela?
Mas como pensar nisso
enquanto tanta gente
morre de dengue
na Cidade Maravilhosa?
É claro que eu queria
estar aí te beijando agora,
mas é que três chacinas
fazem aniversário em Abril
e eu tenho que comemorar,
ainda mais estando livre
a maioria dos culpados.
Hoje é Sexta de Paixão!
Quem sabe neste ano
finalmente escolheremos
crucificar Barrabás,
ao invés de comermos peixe.
Paracambi, 21 de Março de 2008.

A verdade sobre Judas
Ontem crucificamos Jesus
e hoje estamos tristes,
mas isso não pode impedir
que se abra a cerveja.
Até quando buscaremos
um Judas para malharmos?
Amanhã trocaremos ovos
gostosos de chocolate,
para comemorarmos que
o túmulo de Cristo está
vazio já pela manhã,
e esqueceremos dos outros
tantos túmulos que à noite
terão seus novos moradores.
O melhor lugar que existe
para encontrarmos Judas
é lá no espelho do quarto.
Paracambi, 23 de Março de 2008.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

SUICIDAL BOYS

Falta o revólver,
falta a bala
e eu não consigo escolher
o lugar do tiro.
Por isso não me mato.

Se eu atirasse no peito
escorreria todo o amor
que acumulei por você,
e sem ele minha vida inteira
e até minha morte
teria sido em vão.

Se eu atirasse na cabeça
escorreriam as idéias
sobre o que acho estar mais perto
do que chamo de felicidade.
E embora todas as ideologias juntas
não valam um suicídio,
nem um homicídio,
nem um genocídio;
sem o que a gente acredita
é como se a gente nunca tivesse
existido no mapa.

E se eu atirasse no pé
mancharia o caminho
que dolorosamente percorri
na tentativa de deixar
uma trilha melhor para você,
para que fosse mais fácil
quando você tivesse que passar
pelos lugares onde já passei.

Eu poderia também
cortar os pulsos,
mas o Renato já tentou isso
e deu tudo errado.

Nem me enforcar eu posso,
nem pular de um prédio,
porque morro de medo de altura.

Já que não sei nada de nadar
eu poderia me afogar,
mas e se não achassem o meu corpo?
Aí não leriam a minha carta!
E suicídio não vale a pena
sem a devida carta suicida.

Venho tentando com veneno.
Todo dia me enveneno,
enquanto vejo tv,
enquanto leio jornal,
durante as aulas da faculdade,
e até no meio das missas
e nas reuniões do partido.
Mas isso não está funcionando:
o veneno é forte;
mas a vontade que meu corpo tem
de continuar vivo para tocar o seu,
é muito mais forte do que todos os venenos.

Já pulei na frente
de tantos caminhões,
de tantos trens
e de tantos aviões:
o freio de uns era bom,
o volante de outros era melhor,
e os poucos que se chocaram comigo
saíram pior do que eu.


É por isso que não me mato!!!
Mas o principal motivo
para eu não me matar
é que eu só faço aquilo
que eu mesmo inventei:
Não consigo não ser original!!!

Paracambi, 17 de Fevereiro de 2008.