Autorias e Desencontros

Cortei o cabelo para ver se conseguia cortar outras coisas que estão me enrolando...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Formas Delicadas de TERMINAR com Alguém - Parte I

O Memorando


************************LTDA TERE S.A.****************************
Memo: 171/2009
Ao: Ilmo Sr. Dornellas,

Comunico ao Sr. que a partir desta data não mais necessitaremos dos seus serviços, no Setor Red Heart, na função de Namorado. Sabemos que a notícia pode ser vista como inesperada, porém há muito estamos discutindo formas de inserção da nossa empresa em estratégias mais dinâmicas de produção. Pensamos também que é preciso readequarmos nosso funcionamento, de modo a otimizarmos o tempo e os recursos da nossa empresa, assim como a chance de oxigenarmos nossas concepções com a sua devida substituição por alguns estagiários, jovens que acabam de ingressar no mercado e anseiam por essa oportunidade de experiência e por esse voto de confiança na capacidade de aprenderem, sem contar o dinamismo que tal perfil trará para nosso ambiente de trabalho. Esperamos que o Sr. enxergue nessa atitude a chance excepcional de que possa também alcançar novos mercados, adquirindo novas experiências e conhecendo novos horizontes.

Gratos por seus serviços e dedicação,

Setor de Recursos Humanos

Formas Delicadas de TERMINAR com Alguém - Parte 2

Os empréstimos de Borges
Eu tava já na ânsia de terminar com ela. Mulher ciumenta não dá pé. Custei suor e mais suor pra conseguir me separar de uma assim, lance de cartório, juiz e advogado. Agora que finalmente eu tava gostando de outra, na hora que a parada tá num clima de coisa sério, de compromiso, tipo rolando mesmo né, aí ela mostra as garras, ela entrega o serviço, desfaz a máscara e aparece a loucura varrida do ciúme. Ai meu Deus, maldita cina essa minha de me apaixonar por mulheres ciúmentas! Pensei: "Tenho que meter o pé! Ralar fora dessa porra de canoa, antes que me afunde de novo!" Mas como que eu ia sair dessa, se a mulher já tava pagando as minhas contas? Plano B - o ÓBVIO: Voltar ao trabalho. Ligação daqui, ligação de lá. Pede uma moral a um amigo, a outro. E passou quase um mês, até que o Césinha ligou avisando que tinha conseguido uma vaga pra mim como caseiro numa fazenda em Valença. "Porra, Valença! É o jeito né." Mas para ir para lá eram além das três horas de viagem, uma grana de passagem. Grana que eu obviamente não tinha! Então, inventei uma história de dor de dente, siso careado, coisa do tipo. Ela caiu e me emprestou uns cem contos, na época quantia significativa (com um real se comprova um quilo de frango). Aproveitando que ela nunca mais iria me ver, se Deus me ajudasse e ela não conseguisse descobrir onde eu me enfiei, pedi emprestado também alguns livros que eu sempre quis ler e nunca tinha tido tempo antes, incluindo uma coletânea com as obras completas do Borges. Naquela mesma tarde embarquei para a cidadezinha do sul do Estado.

Formas Delicadas de TERMINAR com Alguém - Parte III

O último adeus de Teresa

Primeiro ela concordou em participar comigo da Mostra de Cinema que um amigo meu estava organizando, sobre o Bergman. Coisa que ela sempre achou chatíssima: "Esses filmes-cult-insuportáveis que você e seus amigos gostam não fazem o menor sentido pra mim." Ela gostava mesmo é de comédia romântica, dessas de adolescentes. O que pra mim nunca se constituiu numa questão, afinal nossas diferenças além dos risos provocavam complementações. O fato é que estranhei ela ter concordado com o convite para a tal Mostra. Depois ela mesma sugeriu irmos para o Veneza, um motel que eu adoro por causa daquelas incríveis cadeiras eróticas. E foi uma das melhores transas que já tive, ela incorporou a luxúria. Algo indescritível. No sábado, me lembrou que fazia tempos que não jantávamos fora, e que nunca tínhamos ido a um restaurante de culinária estrangeira. Então, sugeri um restaurante Tailandês incrível, que conheci lá no Itaim. Foi incrível! Realmente romântico e especial. Depois do jantar sugeri que fôssemos para o meu apartamento. Mas ela disse que não, que passaria aqui no domingo a tarde. Eu tava tão animado com aquela semana incrível que resolvi combinarmos sim domingo a tarde, ignorando assim minha santa norma de fidelidade futebolística. Então, no domingo de manhã acordei com o seguinte SMS: "ñ rola mais. I e vc já era. Somos nada a ver. Tava infeliz. Foi mau." Aí pensei: "Porra, esse mau é com L ou com U? Acho que é com L." E fui ver no Aurélio.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Sobre o resfriado repetitivo

Mendiguei seus comentários!!!
Implorei respostas que não vieram!!!
Derrotado
tentei não produzir mais fala alguma,
como se o meu silêncio
não fosse um grito sobre quanto te amo.
Porém, hoje, no dia em que
eu não queria se quer lembrar seu nome
(como se pelas coincidências que nos unem
isso não fosse também impossível),
fizeram fila para me perguntar por você.
Enfim, o dia está insuportável
sem que eu diga o que sinto.
E os versos igualmente medíocres!!!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"Quem tem medo do lobo-mau?"

Qual o sentido de me amar trancada no seu quarto?
Qual a graça de me amar segura dentro da sua casa?
E não vem dizer que não me ama!
Esse papo de que você não me ama já não cola!!!

Preciso entender como ainda acha que é possível
se proteger de qualquer coisa ameaçadora
que emerge nesse encontro de nós dois,
se desse tombo já caímos e sangramos?

Às vezes eu penso que a melhor forma de sobreviver
diante da porrada inevitável que virá
é relaxar o corpo...

Mas nem sonetizar sobre isso eu consigo:
como posso tentar argumentar?

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Quanto vale o seu orgasmo? - Parte 2

Estava passando ao lado do Hospital na Cidade Universitária. Havia uma enorme poça que a água da chuva de ontem formou no asfalto desnivelado. A água parada estava suja, visivelmente negra. Um homem, dado o calor que o sol trazia, havendo nele a vontade de tomar um banho e a ausência de uma casa que pudesse lhe oferecer isso, usava aquela água imunda, lançava-a sobre suas costas com as mãos. Aproximadamente uns cem metros adiante passei por outro homem, que usando uma mangueira, conectada a alguma torneira de dentro do Hospital, lavava a sua van branca com a água fornecida pela sistema de abastecimento. A diferença entre o homem que tinha apenas aquela água imunda e a van que recebia límpida água, sabão e carinho é que nós dizemos que a van custa mais de 60 mil reais e que aquele homem não vale absolutamente nada.

Quanto vale o seu orgasmo? - Parte I

Estava atravessando a passarela na Linha Vermelha. Quando por um instante resolvi olhar o trânsito. Alguns policiais haviam parado o trafego, para que passassem dois pequenos caminhões, certamente portando alguma carga de muito valor, dinheiro talvez, armamento talvez... Enquanto isso, parado entre os tantos veículos, um motorista de uma ambulância aparentava desespero: com o trânsito parado as chances de que seu passageiro sobrevivesse diminuiam.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Sobre o travesseiro

Uma noite ele dormiu com o travesseiro, e já na noite seguinte havia se tornado dificil dormir sem ele. Como seria possível ter passado tão rápido a depender de algo que de fato é dispensável na vida? A questão é que experimentou, e uma vez tendo experimentado aquela deliciosa sensação de conforto e aconchego, envolvido, entregue, imerso, provocada pelo travesseiro, dormir sem travesseiros havia se tornado tarefa difícil. Sim, não impossível, mas apenas difícil, que aliás era o que ele repetia constantemente para si mesmo. Se tantos anos vivera dormindo sem travesseiro algum, por que agora precisava de travesseiros? Sua inquietação aumentava profundamente na ausência do travesseiro. Revoltou-se então, não contra o fato de necessitar de travesseiros, mas com o travesseiro que provocou tal dependência nele. Entretanto, já era tarde demais: não apenas agora queria um travesseiro, desejava aquele travesseiro especificamente. O pior é que descobrir isso gerou nele inseguranças nunca antes sentidas, temia principalmente que o travesseiro não precisasse dele como ele dependia do travesseiro. E esse medo tornava-se certeza a cada noite em que o travesseiro não estava ao seu lado, mas nem assim conseguia desistir de querer o travesseiro.

Sobre o conto do mês passado

Eu sou Lenita
e seu rosto
repleto de cicatrizes.
Eu sou o homem
que a ama
apesar de tantas dúvidas.
Eu sou os especialistas
que querem
curá-la da sua dor,
e lucrarem na sua dor.
Eu sou o escritor
que afetado
escreve a estória.
Eu sou o conto escrito
para que você me ame.
E sou qualquer coisa inquieta...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Alguém? Para quê?

Passei muito tempo tendo medo de que nunca pudesse amar alguém daquela forma desesperada que via as pessoas me amando enquanto eu as mandava embora. E se eu assim como não consigo odiar absolutamente ninguém por mais do que cinco minutos também não conseguisse amar a alguém sofregamente com tudo que sou por mais do que dez minutos? Seria terrível. Meu coração virou um entra e sai, como a lanchonete do Vandinho: sempre movimentada, sempre com bom atendimento, sempre com pessoas legais passando por lá, mas nem os funcionários são os mesmos. O que de fato seria perfeito se não fosse esse terrível medo de que nunca pudesse amar alguém daquela forma desesperada: que me fizesse ridiculamente ciumento, embora em segredo; que me fizesse ridiculamente ingênuo, ridiculamente tímido, ridiculamente desprotegido. Por que desejar um amor assim? Porque quero da vida as intensidades!!!

Mas então aparece alguém... Um alguém que não sabe dividir comigo o que ela é, que não me diz o que gosta de fazer, que nem quer fazer comigo as coisas que eu gosto... Um alguém que acha imbecil qualquer hipótese de compromisso duradouro comigo... Um alguém que finge se arriscar, mas que de fato não se arrisca nem um centímetro por minha causa. E como que por maldição de todas as mulheres que já iludi na minha vida, é por essa pessoa que eu me apaixono a tal ponto que abandonei a minha velha agenda de telefones úteis. E eu tenho passado todos os meus últimos domingos e feriados embriagado por ela. Porém nutrindo sempre a esperança de que um dia ou vá esquecê-la ou vá convencê-la a viver plenamente comigo.

Enquanto isso tenho procurado nem escrever, para não ficar produzindo sentimentóides. Tenho trabalhado, estudado, trabalhado... E para me distrair comecei a pensar se existe mesmo um mundo espiritual, no que significa a morte, e outras coisas dessas simples perto do problema que é sentir o peito...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

"...que HOJE eu quero fazer tudo por você"

Seria tão mais fácil pra mim
nunca mais encarar os seus olhos
e nunca mais ficar perdido
depois de ver os seus dentes.
Mas um pouco antes do almoço
tenho apetite pela sua voz,
e até te ligaria
se eu não me sentisse
a cada dia mais ridículo
a cada vez que te telefono e
a cada vez que repito o seu nome
como numa prece pra te ver de novo.
Eu dei um passo em falso
e você aproveitou pra me derrubar
e eu caí.
Se não for por mim
que seus versos surgem,
um dia também não será por você
que os meus aparecerão.
Mas enquanto isso,
te escrevo como se todos os seus versos fossem meus,
já que injustamente todos os meus são seus!!!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Disse Herbert: "Eu quis dizer, vc não quis escutar. Agora não peça ..."

E se eu te fizesse as mesmas perguntas que você me faz?
E se eu ficasse esperando até você me dizer alguma coisa,
como você sempre espera que eu te diga?
Por que eu tenho sempre que ir até você?
Por que eu tenho sempre que dar os primeiros passos?
Por que não pode você me dizer o que quer?
E como é possível que você não tenha lido nos meus gestos
o quanto te amei sem poupar gaveta nenhuma?
E como pode pensar que não houveram insurreições
contra o medo que senti, sinto e sentirei ainda amanhã,
se mesmo tremendo ousei caminhar por onde não conheço?
Tá: não fiz questão de chegar onde eu queria:
é porque continuo querendo mais contar as histórias
do que viver qualquer pretensão de final feliz!
Incoerente? Talvez. Mas, e daí?

quarta-feira, 22 de julho de 2009

"Pra num CAFUNÉ fazer os meus apelos"

Ele sabia, mesmo sem ter ideia de onde aprendeu tal coisa sabia. Sabia que no momento em que saísse dos seus muros, da sua cidade tão protegida, no momento em que ousasse se lançar ao outro, sabia que a partir dali sofreria todos os dias. E tinha um medo profundo do que o esperava. Mas ainda assim abriu o portão, e se arriscou. Imediatamente foi revestido de carne e de tato, e seu novo corpo se encheu de sangue e de póros, e conheceu aquilo que mais pode fazer alguém sentir dor, e sangrou sem derramar gota nenhuma. Mas conseguiu sentir também o prazer de qualquer coisa como um cafuné, e isso o deliciou tanto que naqueles 59 segundos de cafuné se esqueceu das dores do dia inteiro e até das muitas queixas que tinha para fazer. Certamente não podia se reconhecer no espelho. Mas não se importava muito com isso. Precisou inventar qualquer remédio pra quando seu cafuné não estivesse presente, um anestésico para suportar os dias, as horas e os minutos sem ela. Foi aí que o cafuné invadiu sua escrita, e até seu blog se tornou um apelo pela vinda de um certo alguém, porque parecia que o retorno dela não chegava nunca de tanto que demorava... Se ele voltaria atrás? Se ele pudesse voltar e impedir que se apaixonasse por ela? Se houvesse algum meio que evitasse a paixão por alguém? Não tem como voltar! Nem há como impedir a paixão, ainda mais que a gente só a percebe depois que ela já aconteceu. Mas se tivesse como voltar, se tivesse como impedir, se tivesse como evitar, se tivesse como eu me curar de você, ainda assim não me curaria. Porque prefiro sangrar pra poder sentir o que sinto por você!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Últimas Notícias vindas da Ilha

Quando soube dos dias que passaria sem te ver, sangrei. Mas você riu debochando... Quando será que você vai entender que nem no Samba consigo me sentir bem sem você ao meu lado? Ainda mais praticamente duas semanas! Mas eu não seria eu se mesmo assim não fosse cantar, tocar e sambar, sem a ilusão de que isso poderia me fazer te esquecer. E quando eu vou admitir pra mim mesmo, ainda que apenas no escuro do quarto às duas da manhã, que qualquer dia sem você me dói imensamente? Sei lá! Vou é escrever aquele conto erótico, que é mais interessante!!!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Não me peça nada!!!

É preciso te proteger do Lobo,
só que o Lobo sou eu!
Então eu vou embora!!!
É preciso te salvar da queda,
só que o Abismo sou eu!
Então eu vou embora!!!
Talvez você se sinta vazia,
mas, se for assim,
também, e por isso,
poderá se sentir leve.
Quem sabe mais leve
você possa voar!
Eu estou repleto de vírgulas!!!
Mas também ficaram as exclamações!!!
Só fico triste
porque a dor que sentimos
não vai acabar depois
do ponto final deste poema.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sobre o que quero ainda hoje...

Eu devia querer escrever qualquer coisa que mudasse a literatura! Mas ao invés disso estou preocupado em escrever qualquer coisa que tire você desse lugar!!! Mas que lugar é esse que você está, que faz de nós algo que não tem nome? Que faz de nós algo que eu não sei o que é? Me pergunto no espelho sobre os planos que tenho para nós. Seria qualquer um deles possível? Embora pra poucos eu me diga que sim, continuo tocando o barco nesse rio. Ai... o que estou escrevendo aqui afinal??? Eu devia ir trabalhar naquele conto da mulher que dá pro cachorro! Ou quem sabe ir escrever aquela poesia sobre o Vestido Rosa para Fernanda! Ou até mesmo estudar pra faculdade! Não, estudar não!!! E pensar em quanto me policiei pra não ter plano nenhum! No quanto me disciplinei para não acreditar em nada! No quanto desejei não ter esperança em qualquer coisa! Mas não consegui pôr rédeas nessa bomba no meu peito! Por enquanto ainda não. Mas quem sabe eu consiga! Mas não é isso que eu quero!!! Eu quero é me perder mais um pouco ainda...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

É o encanto do seu beijo que traz a chuva

Eu passaria um dia inteiro te fotografando,
um dia inteiro te vestindo de tantos jeitos
e te obrigando a desfilar pra mim.
Eu passaria um dia inteiro despenteando o teu cabelo
e penteando de novo, e cortando, e tingindo,
só pra poder experimentar sua cara entre as farsas.
Eu passaria um dia inteiro te despindo
e te devorando entre os lençóis e o suor;
até quando o tempo envelhecer meu corpo
vou preferir mais infartar do que não te comer.
Eu passaria um dia inteiro irritando os seus ouvidos
mentindo que canto em algum tom qualquer canção
que elogie o quanto você é linda, mas duvida.
Mas não posso fazer nada disso:
viver qualquer dia assim
tornaria todos os dias comuns insuportáveis
se o perfume do seu riso não aparecer,
e eu ficaria cativo dos seus dentes,
preso das suas blusas vermelhas,
servo dos seus passos.

(Último Domingo deste maio tão grande)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

"Mexe qualquer coisa dentro doida"

Hoje eu queria qualquer coisa
como o abraço de um gigante.
Hoje eu queria me esconder
no colo de qualquer coisa maior do que eu.
Hoje eu queria me encolher
em qualquer coisa
como o peito da mamãe,
como cachorro faz nas pernas do dono.
Hoje eu queria qualquer coisa
que me acolhesse, me abrigasse,
aconchego do edredón na cama do casal.
Hoje eu queria me embrulhar
em qualquer coisa cacheada
como o negro do seu cabelo grande.

Praia Vermelha

quarta-feira, 29 de abril de 2009

RESISTÊNCIAS

Havia um homem no restaurante dos Clarcks que lavava os pratos. Todos os outros que trabalhavam lá eram Clarcks. Disso ele sabia. E sabia que ele devia lavar os pratos. Mas o que fazia cada Clarck ele nunca fez questão de saber. Sabia quem era o Clarck dono do restaurante, mas o grau de parentesco de cada Clarck ele nunca sequer pensou em querer saber. Sabia que ele não era um Clarck. Tinha ao menos uma suposição: todos os Clarcks deviam achar o serviço de lavar pratos o mais enfadonho e cansativo entre os afazeres típicos de um restaurante, e por isso nenhum Clarck quis fazê-lo , e por isso o chamaram. Passava ele das seis da tarde às duas ou três da manhã lavando pratos. Por que o Clarck-dono não comprava uma máquina lava-louças? A máquina precisaria da mesma forma ser operada por alguém. A máquina ocuparia muito espaço. A máquina precisaria de conserto. A máquina faria barulho. O homem lavava os pratos de quinta a domingo. O homem lavava os pratos em pé, em frente à pia, em silêncio. O homem lavava os pratos no restaurante dos Clarcks. Mas nos dias de folga ele não tinha a mínima vontade de lavar seus próprios pratos. Nos dias de folga o homem que lavava pratos gastava todo o seu tempo procurando um verso novo para escrever; porque nisso, até enquanto lavava pratos no restaurante dos Clarcks, estava toda a sua vontade. E é para ele que eu escrevo mais este livro.
Paracambi, 21 de Abril de 2006.
P.S.: Este é o prefácio da minha nova série de poesias, que se chamará também de "Resistências"

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Você merece 9 Versos

Seu corpo
é o maior prazer do meu.
Cada detalhe me delicia...
Seu gozo me faz gozar.
Sua devoção
na busca pelo meu orgasmo
me faz gozar.
E o seu suor me explica
porque Deus fez o calor.

Quero amarrar você!!!

Eu te levo no Cine Íris
vestida de puta.
Mas me deixa te amarrar
na minha cama
no meu quarto,
cegar teus olhos
por alguns minutos
e oferecer teu corpo
a todos os meus novos amigos.
Eu encosto em outro cara
na mesma rua dentro de você,
mas me deixa te amarrar
na minha cama
no meu quarto,
e experimentar todo o seu corpo
com meu tato,
com meu paladar,
com meu olfato
e com os meus talheres.
Eu convido aquela moça
e misturo nossas salivas
com a sua seiva tímida,
mas me deixa te amarrar
na minha cama
no meu quarto,
poder te bater
ou te enforcar
com minhas juras de amor,
e dormir no seu abraço
com todos os meus pesadelos,
com minhas taras,
com meus medos,
e acreditar que sou feliz.

Maria dos Prazeres dos Santos

Depois
de uma boa comida
o corpo sente uma moleza,
uma vontade
de se deixar na cama
e de confessar amor
ao cozinheiro.
Durante
uma boa comida
a gente se esquece
da solidão e dos problemas,
e que o carnaval acaba terça
ao invés de durar o ano inteiro,
e a gene mal consegue se lembrar
de tudo aquilo que foi feito
Antes.

FIXAÇÃO oral

Eu caibo inteiro
dentro da sua boca.
Depois da sua voz
é que eu acordo.
Quando seus lábios
tremem chorando
sangra meu corpo.
Ontem eu queria
um grito seu,
ou quem sabe
uma mordida.
Nem todo céu
é o céu da boca,
mas o paraíso é nele.
Mastigo a saudade
que seu beijo me deixou,
durante a espera que
agora insiste em salivar.

a Minha cegonha

A sua mãe ficou de quatro
em cima da cama
e eu em pé no chão.
A sua mãe gozou
e queria parar.
Eu queria gozar também
e não deixei ela fugir.
Comecei a meter
com muita força e rápido;
e a sua mãe com uma cara
de quem não estava gostando,
o que na minha perversa tara
mais ainda me excitou.
O suor escorreu pelo meu corpo.
Aí eu gozei tremendo...
Mas quando tirei meu pau
de dentro da sua mãe,
a camisinha tinha estourado.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Diferenças de Contato

Às vezes eu sinto uma enorme vontade
de te mostrar quem eu sou,
de te contar a história
por trás da história da minha vida,
e de te entregar o mapa
que fiz pra minha viagem.
Às vezes eu sinto uma enorme vontade
de gargalhar pra você
a minha maior tristeza,
de te explicar como eu sento
na hora do almoço,
e de colocar versos nas metáforas
pra ver se você entende alguma coisa.
Mas como eu posso confiar em alguém?
Mas como eu posso confiar em alguém
que não fala palavrão?!

Laboratório, hoje, às 23hs em ponto!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Sobre as recentes chuvas...

Se chovesse você
Adonay Pereira/Eliana Printes/Eliakin Rufino

Se você fosse lua
Dormiria contigo na praia
Entraria contigo no mar
Choraria o teu minguante
Seguiria o teu crescente
Habitaria teu luar

Se você fosse sol
Eu seria girassol
Tua luz seria meu farol
Amaria teu calor
O teu fogo abrasador
Queimaria por amor

Se você fosse vento
Queria você todo momento
Pra enrolar meu cabelo
Levantar a minha blusa
Arrancar-me um suspiro
Ser o ar que eu respiro

Se você fosse chuva
Eu me deixava molhar de prazer
Dançava na rua pra ter
Minha roupa bem molhada
Minha alma encharcada
Se chovesse você
***

(Obs.: primeira postagem não-autoral!)

domingo, 15 de março de 2009

O Laboratório das Solidões

Eu só tenho quinze minutos para deixar alguma palavra que diga. Mas qual? Quando você se debruçava sobre meus versos tudo era mais fácil: até cheguei a suspeitar que em alguns dias daqueles senti qualquer coisa perto de esperança. Será que vai passar um mês inteiro sem nenhuma poesia que me dê coragem suficiente para te apresentá-la? Não me importa que você não aceite tantos convites meus: é insuportável o fato de você não ter me feito nenhum ainda. Mas só escrevi esse "ainda" porque sou vaidoso demais pra admitir que convite sonoro nenhum virá da sua boca, só restará mesmo as minhas alucinações. Em parte o plano tá correndo, pois agora só te vejo obrigado! Em parte tá dando tudo errado: continuo aqui imaginando... O que está me deixando puto de verdade é que minha escrita está repleta de amorzinho! Quem pode cuidar de mim na ausência de novos versos? Não me bastam os versos de tantos outros poetas!!! É preciso escrever minhas próprias sílabas!!! Por quê? Se a tantos isso satisfaz, por que a mim não? Eu tenho muitos rios para te oferecer, mas você quer bebê-los homeopaticamente com sua caneca de porcelana! Assim eu não conseguirei te afogar!!! E desconfio que seja isso que me entristeça atualmente. Mas vai passar com os chocolates que se aproximam.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Carência Auditiva

Amolei a minha faca:
cortarei amanhã a sua garganta,
na tentativa de fazer sair
as palavras que te engasgam.
Sinto as frases que chegam
até quase a sua língua.
Sinto você tentar empurrá-las
de volta para o silencioso túmulo
que bate entre as suas costelas.
Mas elas resistem
agarradas à sua garganta.
Amanhã eu as salvarei:
com a mais afiada das facas
abrirei um novo caminho
para que elas cheguem
aos meus ouvidos carentes.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O Seu Silêncio é um Aborto!

Enquanto os ingênuos pensavam
que as freiras seguiam seus votos,
elas cavavam covas
para seus fetos abortados.
Eu te expus meus medos,
e te contei minha infância,
falei até da minha brincadeira ridícula
de andar pra lá e pra cá
contando histórias sozinho.
Emiti minhas opiniões:
as que você queria ouvir e
as que você nunca me perguntou.
Tirei peça por peça da minha roupa
num palco que fiz
só para você me notar.
Mas como pagamento da minha dança
seu silêncio se manteve impenetrável
como boceta de freira virgem.
Não é possível tamanho
cinto de castidade verbal!
Onde você tem enterrado
as palavras que eu te engravido?
Por que você aborta as frases
que a cada noite te fecundo?
Não vê que está assassinando
as filhas que meu amor por você
poderia nos dar e me salvar?
Nunca quis você pra mim!
Só queria te fazer falar!!!

Paracambi, 17 de Janeiro de 2009.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

DEPOIS DO DISPARO

Não deixe
que meu corpo apodreça
aqui no quarto.
A porta está aberta.
A porta está aberta!
Assim que eu der o tiro
e espalhar, através da massa cinzenta,
o meu pensamento pela parede,
venha e me leve embora.
Venha, e me leve embora!
Doe os meus órgãos sãos.
E queime o que sobrar.